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O Culto à Deusa


Antes das religiões contemporâneas ocidentais cultuarem a figura de um Deus-Pai-Criador, milênios antes do nascimento de Cristo, cultuava-se um Deusa-Mãe-Criadora. Representante do poder de geração de vida concedido ao papel das mulheres na sociedade. Sim, alguma vez, muitos anos atrás, o poder de gerar uma vida era incontestavelmente um poder de barganha e autoridade. Isso se dá pelo fato de ainda não terem associado o sexo com a geração de uma nova vida, pois não se compreendia o conceito de fecundidade ou o papel do sêmen masculino. Portanto, o poder de gerar uma vida parecia depender exclusivamente da atuação feminina. Do período do VIII ao VI milênios antes de Cristo, iniciou-se uma transformação radical no modo de vida da humanidade. Foi a chamada Revolução Neolítica. A agricultura se estabelece definitivamente em 6500a.C.. No período que as mulheres passavam reclusas por conta da menstruação (considerada uma doença), em quarentena, elas comiam frutas e deixavam suas sementes no chão. Quando voltavam a passar pelo período menstrual, elas constatavam que nos lugares em que elas haviam deixado uma semente jogada ao chão, brotara uma árvore. E foi assim que as mulheres foram responsáveis pela descoberta e desenvolvimento da agricultura. Fato tal que permitiu que os grupos ainda nômades pudessem se estabelecer em alguma região fixa. A caça promovida pelos homens também sofreu retroação. Pois começaram a perceber que a caça extensiva e descomedida poderia repercutir na extinção dos animais. Portanto, passaram a domesticar os animais, e a caça perdeu consideravelmente o seu valor para a agricultura. A fecundidade dos solos era considerada dependente da fecundidade feminina. Na região da atual Turquia, entre 6500 e 5600a.C., surge a maior e mais antiga cidade conhecida: Çatal Huyuk. Nela foram encontradas casas com relevos femininos: mulheres grávidas e figuras com pares de seios. A Deusa Pótnia é representada com uma pantera de cada lado, em cujas cabeças ela coloca as mãos, demonstrando seu poder de mãe e senhora da natureza. Após a invenção da escrita, em 3000a.C., foi venerada com o nome de Inanna, na Suméria; Ishtar, na Babilônia; Anat, na Fenícia; Ísis, no Egito; Nukua, na China; Freya. Era sempre reverenciada como fonte de vida, como a força que proporciona a existência das plantas e da fertilidade. Não tendo mais que arriscar a vida como caçador, os valores viris do homem não eram mais enaltecidos, daí a ausência de deuses masculinos. As súplicas e os sacrifícios eram dirigidos à Deusa e toda atividade econômica estava ligada ao seu culto. É interessante, não é mesmo? Conhecer uma versão diferente da história. Uma na qual o papel central e dominante do homem não se faz presente, mas no seu lugar (aos olhos maus acostumados) a mulher rouba o papel central do homem. Eu decidi abordar esse assunto depois de constatar a carência de referências sobre o referido tema. Portanto... Ao mesmo tempo que a Deusa era adorada sob diferentes nomes e formas, é possível falar em fé na Deusa, como sendo única. Ainda que curiosamente o culto fosse politeísta e monoteísta, simultaneamente. O universo era uma mãe generosa, a Deusa o governa, proporcionando bem-estar ao seu povo. Assim como toda vida nasce dela, retorna a ela, na morte, para renascer. Quando abandonaram a caça, os homens começaram a participar das atividades das mulheres. Inicialmente, ajudavam na árdua tarefa de desbravar a terra com enxadas de madeira, o que exigia bastante força física. Tempos depois, domesticaram os animais e incorporaram à agricultura, usando um arado primitivo. A convivência cotidiana com os animais fez com que percebessem dois fatos surpreendentes: as ovelhas segregadas não geravam cordeiros nem produziam leite, porém, num intervalo de tempo constante, após o carneiro cobrir a ovelha, nasciam filhotes. A contribuição do macho para a procriação foi, enfim, descoberta, mas não apenas isso. Os homens perceberam que um carneiro podia emprenhar mais de 50 ovelhas! Com um poder similar a esse, o que o homem não conseguiria fazer? Não é difícil imaginar o impacto dessa revelação para a humanidade. Após milhares de anos acreditando que a fertilidade e a fecundação eram atributos exclusivamente femininos, os homens constatam, surpresos, que o que fertiliza uma mulher é uma substância nela colocada: o sêmen do macho! A reação masculina eclodiu com força e ira de quem fora durante muito tempo enganado. O homem foi desenvolvendo uma comportamento autoritário e arrogante. Do parceiro igualitário, a mulher viu surgir um déspota opressor. Num primeiro momento, a Deusa continuava a ser venerada, mas um Deus masculino e viril desponta para lhe fazer companhia. Na condição inicial de subordinado, era responsável exclusivamente por fecundar a Deusa. Até que em seguida, passaram a serem considerados como casados para a eternidade. O coito sagrado era encenado pela sacerdotisa do templo e pelo sacerdote, escolhidos por vontade divina. Celebravam o mistério do sexo e da fertilidade da natureza. Gradualmente, os deuses foram adquirindo poder, na mesma medida que se desequilibravam as relações entre homens e mulheres. Ísis e Osíris, um casal divino, apareceu no Egito durante o terceiro milênio. Seu casamento simboliza a união da água (Nilo) e da terra. Passado um tempo, o culto à Terra-Mãe foi substituído pelo culto ao Herói-Guerreiro. Disso em diante, foi perdendo espaço, até ser destronada completamente. Banida dos cultos e perdendo espaço do território do Divino. Os homens passam a ter autoridade sob o corpo das mulheres, por meio da instituição do matrimônio. Surge uma preocupação em manter a fertilidade feminina sob controle, desse modo, cerceando a liberdade sexual das mulheres. A virgindade das mulheres passa a ser exigida para o desposamento, com pena de morte caso descumprida. E assim vão-se milênios, até o surgimento de outros mitos que serviram para endemoniar a mulher, como o mito de Lilith na cultura Judaica. Mas isso é um tema que eu prefiro não abordar nem me aprofundar.


Fonte: http://gunterb.blogspot.com.br/

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