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Organização


Sábado dei uma passadinha na Igreja Católica perto de casa, na tentativa de dar uma “limpeza”. A idéia era entrar por uma porta, e sair pela outra, pois supostamente as energias ruins (ou formas-pensamento) ficariam do lado de fora, meio que esperando por você, mas aí você sai pelos fundos e grita “pegadinha do Malandro!”


O fato é que, uma vez lá dentro, deu vontade de ficar. O clima estava silencioso, com várias velhinhas prestativas, seja entregando o missal, ou conversando com as pessoas, vendo se elas precisavam de algo… Sentei, e fiquei observando tudo, sentindo o cheiro suave daqueles purificadores de ar, olhando a disposição das cadeiras, o arranjo de flores, e pensando no quanto aquilo era devido ao trabalho meticuloso daquelas senhoras, tão felizes e ao mesmo tempo serenas. Lembrei da minha avó por parte de pai, que era presbítera, e eu achava uma perda de tempo ela ir à Igreja, pois pra mim nada mais era do que o equivalente a uma ida ao shopping, um ponto-de-encontro de senhoras pra conversar e mostrar seus novos vestidos. Tolice medir os outros pelas nossas réguas (reais ou imaginárias), não é?


Uma das minhas avós eu só entendi há uns 5 anos. A outra, só agora. Naquela Igreja eu percebi que o encontro, a reunião e a devoção, expressas no cuidado com o templo e com seus visitantes, é espiritualidade pura. É o equivalente ao Seva, na cultura hindu, que significa servir, e representa o trabalho devocional e voluntário. Você se doa a Deus através do trabalho, seja num arranjo de flor, seja numa doação em dinheiro que pague as contas do lugar de oração.


Qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós que quiser ser o primeiro, será servo de todos. (Mar 10:43-44)


No final das contas a espiritualidade que é “cobrada” de nós (por nossa própria consciência) é o espelho daquilo que nossos Mestres foram: amantes da vida em todas as suas manifestações, artífices de Deus à serviço da humanidade. Não é fácil, podemos estar nos espelhando em lendas, mas é um referencial. E como estamos? Ainda estamos na fase de cuidar do templo de pedra, das relações sociais com pessoas afins, mas “só” isso, feito de forma desinteressada, já é um grande avanço. Depois de cuidar do templo dos outros (ou de Deus, como queiram) convém cuidar da própria casa. Com “casa”, abarco não só a moradia de pedra, como a casca onde efetivamente vivemos: o nosso corpo.


Geralmente existe uma simbiose interessante entre o lar e o corpo, pelo menos comigo. Quando estou doente alguma coisa na casa quebra, ou no carro, ou uma planta sua seca, ou seu animalzinho adoece (ou mesmo morre!). Dizemos que é a “carga” ruim que estava conosco, que pegou no objeto, planta ou animal. É por isso que existem amuletos, talismãs como o “olho grego“, que protege contra o famoso “olho gordo”, ou “olho de seca-pimenteira”. Aliás, dizem que é bom ter uma pimenteira em casa, que ela é muito boa em pegar “carga pesada” e ainda sobreviver. Aliás, se você tiver um jardim na frente de casa, é bom ter Peão-Roxo, Arruda e Espada de São Jorge. Mal não faz…


Mas, voltando à simbiose, o material é tão-somente um reflexo do espiritual, então a limpeza exterior ajuda (e muito) a dar um ânimo pra iniciar a limpeza interior. Então se sua vida está complicada, e sua casa desarumada, abra as janelas pro Sol, pegue esfregão, um balde com desinfetante, e mãos-à-obra! Se você afundar na sujeira, a tendência é criar sujeira mental! Mas não se engane: quem vive na miséria por necessidade não significa que essa pessoa pense como um miserável. A maioria dos miseráveis mentais que conheço usam terno e gravata. Uma pessoa pode dormir no lixo e não se misturar ao lixo. Mas uma mente perturbada pode sim criar perturbação à sua volta (física e mental), então trazer ORDEM (mesmo que pros outros não pareça lá muito arrumado, pois quem traz a SUA ordem é a SUA mente, não a mente dos outros) ao seu mundo físico é essencial pra restaurar a ordem mental e espiritual.


Vendo por este lado, percebemos a tolice que é a discriminação das religiões tão-somente por seus “sabores”, como se uma fosse melhor que a outra, justamente porque todas elas cumprem a mesma função de trazer organização e equilíbrio mental e espiritual aos seus praticantes, que “funcionam” de modo tão diverso quanto o são as denominações religiosas. O ritos dos ocultistas, as proibições dos evangélicos, os cânticos da Yoga ou do Daime, a Missa, a Meditação, são todas formas de organização que podem funcionar melhor com uns do que com outros.


Fonte: http://www.deldebbio.com.br/organizacao/#more-6288

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